segunda-feira, 22 de março de 2010

A IMPORTÂNCIA DO CERRADO


Desequilíbrio das águas




Considerado por muitos, erroneamente, como um ambiente seco e sem vida, o Cerrado está longe de ser um estranho na celebração do Dia Mundial da Água, que ocorre hoje. Um dos maiores ecossistemas do país e também um dos mais agredidos — já teve 48,2% de sua vegetação original destruída — ele possui as nascentes de rios que percorrem estados das cinco regiões e abastecem as três maiores bacias do Brasil. Segundo especialistas, sua preservação é fundamental para garantir água para a vida nas cidades, a prosperidade da agricultura e o funcionamento das hidrelétricas.

— O Cerrado possui uma importância enorme para o abastecimento de água no país — garante Rubens Coelho, professor de Engenharia de Irrigação da USP. — Basta lembrarmos que o Rio São Francisco fica dentro dos seus limites.

De acordo com a ONG SOS Cerrado, 78% da água que abastece a Bacia Amazônica vem de rios que nascem no Cerrado e 50% das águas da bacia do São Francisco têm origem nas suas nascentes. Trata-se, portanto, da maior fonte geradora de água doce no país que tem a maior riqueza hídrica do planeta.

Tamanho tesouro, porém, não tem sido bem tratado: o Cerrado tem apenas 2,8% de seu território protegido de forma efetiva. O desmatamento corre acelerado, enquanto o governo só agora anuncia o lançamento de um plano para conter sua devastação.

— Trata-se de um ecossistema que, diferente da região amazônica, não possui muitas proteções naturais, favorecendo a ocupação desordenada. Isso tem causado, por exemplo, o assoreamento dos seus rios — afirma Leide Takahashi, gerente de projetos da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, que desde 2007 mantém uma unidade de conservação no local.

Quando o assunto é água, o Brasil poderia estar deitado em leito esplêndido. O país, onde vive apenas 3% da população mundial, detém cerca de 13% da água do planeta — 74% desse percentual, porém, está na pouco povoada região amazônica.

— Temos uma quantidade invejável de água, mas não em cada ponto do Brasil que dela precisa — conta Paulo Canedo, coordenador do laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ. — Na região amazônica, temos mais água do que precisamos. Já no semiaacute;rido, temos menos água do que é necessário.

Além disso, tratamos muito mal essa nossa riqueza natural.

Uma das maiores causas de mortandade no país é a diarreia, que é o resultado da contaminação da água. O tratamento de esgoto no país é um caso de saúde pública.

De acordo com um relatório das Nações Unidas, divulgado esta semana, uma entre cada seis pessoas no planeta não tem acesso à água potável. Até 2025, a estimativa da ONU é que dois terços da população vão sofrer com a escassez de água.

— Poderíamos estar numa situação muito melhor se tivéssemos uma administração eficiente das nossas águas — afirma Canedo.

— Falta uma política nacional desse recurso. Sem isso, seguiremos desperdiçando o que a natureza nos deu.

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